
O gasto médio anual do presidente Lula com cartões corporativos superou em 25% as despesas de Bolsonaro. Em 2023 e 2024, Lula gastou R$ 16,4 milhões por ano, em média, enquanto as despesas anuais de Bolsonaro ficaram em R$ 13 milhões. Lula também fez as maiores despesas individuais. Em dezembro de 2024, Lula fez dois pagamentos de R$ 204 mil. Em maio, já havia pago uma despesa de R$ 217 mil – tudo em sigilo.
As maiores despesas de Lula com cartões ocorreram em 2024 – R$ 19 milhões –, ano de eleições municipais, com muitas viagens pelo país. A maior despesa do ano foi de R$ 217 mil, em maio. Em julho, um cartão de Lula fez um pagamento único de R$ 204 mil. Em dezembro, foram feitos mais dois pagamentos no valor de R$ 203 mil cada um, mais outro de R$ 202 mil – tudo no mais completo sigilo. Naquele ano, 33 pagamentos igualaram ou superaram os R$ 100 mil, com valor médio de R$ 141 mil. Em 2023, 13 pagamentos superaram os R$ 100 mil.
Em 2022, o maior pagamento com cartões de Bolsonaro ficou nos R$ 82 mil. Em 2021, chegou a R$ 89 mil – com média de R$ 76 mil. Em 2020, o maior pagamento chegou a R$ 112 mil. No ano anterior, bateu em R$ 133 mil. Foram apenas dois pagamentos no valor médio de R$ 111 mil. Os dados ficam em total sigilo durante o mandato presidencial.
“O presidente não é portador”, diz Secom
A Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou ao blog que “o presidente não é portador de nenhum Cartão de Pagamento do Governo Federal (CPGF). O uso do cartão é realizado por servidor indicado pelo Ordenador de Despesas. Portanto, os gastos são da Presidência da República. Não são e nem devem ser tratados como despesas pessoais do presidente”. Bolsonaro também alegava que não era ele quem usava o cartão corporativo.
Em julho, um cartão de Lula fez um pagamento único de R$ 204 mil. Em dezembro, foram feitos mais dois pagamentos no valor de R$ 203 mil cada um, mais outro de R$ 202 mil – tudo no mais completo sigilo
Quem paga as contas com cartões, na verdade, são servidores da Presidência, mas esses cartões pagam despesas do presidente, como deslocamentos da sua comitiva e de seguranças, apoio aeroportuário, eventos institucionais e manutenção das residências oficiais do presidente, principalmente o Palácio da Alvorada. Bolsonaro também alegava que não era ele quem usava o cartão corporativo. Ninguém imagina que o presidente pagaria a conta da hospedagem na portaria do hotel com o seu cartão: “Quanto deu, aí?”
Para justificar os gastos de Lula, a Presidência acrescentou: “Importante destacar que, no período entre 2023 a 2024, foram realizadas várias operações especiais de repatriamento de brasileiros, especialmente da Palestina e do Líbano, o que gerou despesas extraordinárias e emergenciais”. No governo Bolsonaro também houve voos do avião presidencial para repatriar brasileiros no período da pandemia da Covid.
O que os presidentes querem esconder
Como as despesas com cartões corporativos ficam em sigilo durante o mandato do presidente, é impossível apurar com o quê Lula gastou em 2023 e 2024. Mas as despesas do presidente de 2003 a 2010 estão abertas, assim como as de Bolsonaro de 2019 a 2022 e as de Dilma Rousseff de 2011 a 2017. Lula esbanjava com bebidas caras. Em agosto de 2010, foram adquiridas sete garrafas de Absolut e seis garrafas de cachaça Anísio Santiago, mais alguns vinhos, num total de R$ 4,4 mil, na Casa do Vinho. Duas semanas depois, foram compradas 24 garrafas de Johnny Black no valor total de R$ 7,3 mil. Em 10 de setembro, a adega do Palácio da Alvorada teve mais um reforço de 12 garrafas de Black, 5 de Anísio Santiago e 6 de Absolut, totalizando R$ 7,3 mil. Todos os valores foram atualizados pela inflação.
Dilma tinha preferência pelos vinhos. Em 2014, ano da sua reeleição, o cartão da presidente pagou seis garrafas de vinho tinto português da Península de Setúbal e três unidades de vinhos do Alentejo. O cartão de Dilma comprou, ainda, seis garrafas do vinho português Quinta da Bacalhoa por R$ 222 a unidade, e mais três garrafas do vinho Pêra-Manca. A conta fechou em R$ 4,4 mil. Em julho daquele ano, já havia comprado 3 garradas de Pêra Manca por R$ 1 mil a unidade. Na Casa do Vinho, foram gastos mais R$ 41 mil na era Dilma.
A mesa era farta no Alvorada. Em agosto de 2010, foram adquiridos 23 quilos de bacalhau Gadus Mohua dessalgado, por R$ 227 o quilo, no Mercado Municipal de Brasília, pelo valor total de R$ 5,3 mil. Em agosto de 2010, na Peixaria do Guará, foram comprados 6 quilos de camarão rosa GGG por R$ 250 o quilo. No Mercado Municipal, mais 16 quilos de bacalhau Gadus Mohua.
Questionada sobre a compra de bebidas caras e carnes nobres para o Alvorada, a assessoria de Lula respondeu que “o governo fazia inúmeros eventos e recepções a chefes de Estado e autoridades estrangeiras, que, na época, visitavam bastante o Brasil. Tais eventos constam da agenda da Presidência da República”.
Bolsonaro gastava no Guarujá
A mesa de Bolsonaro era mais modesta, mas as férias e folgas no Guarujá… Relatório de viagem da Presidência revela que uma viagem do então presidente ao Guarujá, em “atividade privada”, em outubro de 2021, custou R$ 318 mil. Os gastos com supermercado chegaram a R$ 43 mil, incluindo 223 kg de contra-filé. Compras numa padaria custaram R$ 60 mil. A comitiva de apoio tinha 79 integrantes, quase todos militares. Foram transportados material de mergulho e motos. Os gastos com gasolina e diesel marítimo somaram R$ 28,5 mil.
O levantamento foi feito em parceria com a agência Fiquem Sabendo (fiquemsabendo.com.br) a partir do Projeto Cartão Corporativo, financiado pela organização americana MuckRock. As notas fiscais foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação.
Os dados dos dois primeiros mandatos de Lula e dos mandatos de Dilma estão abertos. Lula esbanjava com bebidas caras; Dilma tinha preferência pelos vinhos
A “comitiva oficial” era formada por Bolsonaro, os filhos Carlos e Laura e o amigo Hélio Lopes (deputado federal). A comitiva técnica incluía o ajudante de ordens Mauro Cid e o assessor especial da Presidência Tércio Arnoud Tomaz. Bolsonaro ficou hospedado no Forte dos Andradas, mas a hospedagem das comitivas técnica e de apoio no Guarujá custou R$ 206 mil.
Gastança nas praias era rotina
Reportagem do blog em março de 2022 revelou que Bolsonaro já havia gasto R$ 10,2 milhões com 15 viagens de férias ou folgas em Guarujá (SP), São Francisco do Sul (SC) e Salvador (BA) em três anos de governo. Nesses passeios, o presidente costumava andar de moto, jet ski e lancha, sempre acompanhado de seguranças.
O presidente e comitiva chagaram ao Guarujá no dia 8 de outubro, uma sexta-feira. Na quinta-feira (7), haviam chegado ao Forte dos Andradas os equipamentos de mergulho e as motos, além de mobília e veículos. Um caminhão recolheu as bagagens. Na terça (12), o presidente e seguranças voaram para a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, mas retornaram no mesmo dia. As maiores despesas foram com hospedagem da equipe de apoio – R$ 105 mil no hotel Ferrareto e R$ 84 mil no Strand Hotel. Bolsonaro e a comitiva oficial ficaram hospedados no Forte, acompanhados de sete militares e assessores. Pagaram taxa de ocupação simbólica, com valores de R$ 70 a R$ 154.