Pedido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desde junho, o uso facultativo de máscaras para quem se vacinou ou se recuperou da covid-19 é tema de estudo do governo federal que tem conclusão prevista para o mês de outubro, afirmou o Ministério da Saúde.
A informação veio da assessoria de imprensa da pasta depois que o R7 recebeu, via Lei de Acesso à Informação, mais detalhes sobre o estudo anunciado no começo daquele mês pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
O anúncio do ministro minimizou fala anterior de Bolsonaro mais cedo no mesmo dia. Durante evento para assinatura de projeto de lei, o presidente respondeu às críticas que sofria por não usar o equipamento em aparições públicas e garantiu que Queiroga iria “ultimar” um parecer desobrigando o uso de máscaras nestes grupos.
“”Ele [Queiroga] vai ultimar parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados para tirar essa (…) esse símbolo, que obviamente tem a sua utilidade para quem está infectado”, comentou o mandatário.
Mais de dois meses depois, o número de vacinados com pelo menos uma dose ou a dose única saltou de 77 milhões em junho para mais de 123 milhões e os números da pandemia melhoraram. Os especialistas, porém, pregam pela prudência até para aqueles com anticorpos contra a doença – que podem se reinfectar.
“As máscara diminui a quantidade de vírus que você joga para o meio ambiente e diminui a quantidade de vírus que as pessoas ao seu redor – especialmente a menos de um metro – recebem”, diz o presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Marcos Cyrillo.
“Nós temos que nos vacinar e as medidas adicionais, como usar máscara, também tem que ser seguidas religiosamente para que a gente possa ter bons resultados. Uma coisa ajuda a outra.”
Em resposta ao R7, o Ministério da Saúde afirmou que o estudo sobre o tema está sendo conduzido pelo Departamento de Ciência e Tecnologia da pasta, que convocou a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) para executar a pesquisa.
O método do trabalho é o da revisão sistemática. Ou seja, “um estudo sobre estudos”, como explicou o ministério, para avaliar a eficácia das máscaras médicas e não-médicas em ambientes abertos ou fechados, para vacinados ou recuperados da doença contra o novo coronavírus.
O governo pontuou ainda que o estudo servirá como embasamento para decisão posterior da pasta, a qual caberá a responsabilidade sobre o parecer aguardado por Bolsonaro.
Mesmo a possível recomendação do Ministério da Saúde para flexibilizar o uso de máscaras pode não ter efeito imediato, como o próprio presidente já admitiu. Chancelados por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), governadores e prefeitos têm autonomia para decretar medidas contra a pandemia a despeito de recomendações federais.
Queiroga e Bolsonaro
Nesta segunda-feira (23), Bolsonaro voltou a falar da medida e disse que se encontraria com Queiroga na terça (24) para pedir o quanto antes recomendação oficial para tornar o uso da máscara facultativo. Sobre o encontro, Queiroga afirmou que vai apresentar ao presidente um esboço dos estudos conduzidos pelo Ministério da Saúde.
Na semana passada, ele chegou a falar contra a obrigatoriedade do uso de máscara por lei e disse que a proteção tem de “ser um ato de conscientização”. Mas, ao contrário de Bolsonaro, Queiroga sempre utiliza o equipamento e defende seu uso desde que assumiu o cargo, em março.
“Agora, é pátria de máscara. É um pedido que eu faço a cada um dos brasileiros: usem máscara”, afirmou ele na época. Bolsonaro, por sua vez, descarta constantemente a proteção mesmo quando está no meio de aglomerações.
Gabriel Croquer, do R7