A ideia nasceu ainda na tarde de terça-feira, 25 de novembro. Rosângela Candido, que é ultramaratonista dos 200 km, Cleverson Rodrigues Schmoeller, atualmente maratonista 42 km, Silvanei da Silva Trindade, que fez pela primeira vez 42 km e Lucas Henrique, que fez pela primeira vez 48 km.
Ocorre que Cleverson que já vinham em preparação para uma prova em Ji-Paraná (RO), mas decidiram estartar o desafio exatamente à 0h41, início da madrugada de quarta-feira, 26 de novembro, feriado municipal, com um objetivo simbólico: correr 48 quilômetros em alusão aos 48 anos de Cacoal.
O grupo organizou toda a logística na própria Marginal. A rota incluía saídas do posto conhecido como “Posto da Arara”, seguindo até a rotatória do bairro Greenville, retornando e avançando até a região das Lojas Havan e repetindo esse circuito até acumular a quilometragem planejada.
Um carro de apoio foi deixado estrategicamente próximo a um posto de combustíveis, abastecido com água, comida e tudo o que pudesse garantir hidratação e segurança durante a madrugada.
O filho da ultramaratonista Rosângela, Pedro, também entrou na missão. Ele acompanhou a mãe de moto durante todo o percurso, oferecendo suporte pontual ao grupo. Em boa parte da noite, Rosângela ficou um pouco mais atrás, e a presença da moto garantiu proteção adicional, enquanto os demais seguiam em ritmo mais forte alguns metros à frente.
A madrugada foi avançando ao som de passos, risadas e conversas. Muito mais do que um treino duro, o desafio virou resenha: brincadeiras, histórias, comentários sobre outras provas e, principalmente, o sentimento de que estavam fazendo algo especial pela cidade.
Por volta de 5h30, todos se reencontraram no posto de apoio para o fechamento da primeira etapa do desafio.
Cada um com seu objetivo, todos com a mesma homenagem
Rosângela encerrou o treino pessoal com 32 quilômetros percorridos, meta planejada para a preparação dela para a próxima prova. Satisfeita com o resultado, retornou para casa com o dever cumprido. Já Silvanei decidiu ir além: tentou alcançar os 48 quilômetros, mas fechou a madrugada com cerca de 42 quilômetros, uma marca também expressiva para o desafio proposto.
Lucas e Cleverson seguiram ganhando experiência no percurso que fizeram juntos, do início ao fim, foram muitas brincadeiras aproveitando a regra clara que considera maratonista quem faz 42,195.
Foi a primeira vez para Lucas, uma verdadeira conquista pessoal, tornando o esporte ainda mais marcante na sua vida. Lucas e Cleverson chegaram em ritmo firme e com muita descontração, administrando o cansaço com bom humor.
A segunda etapa do desafio tinha hora e lugar para acontecer. Coincidentemente, no mesmo dia, Cacoal sediava a corrida Corre Cacoal, realizada pela AMEC, em comemoração aos 48 anos da cidade, no Complexo Beira-Rio. O grupo cronometrava o tempo para chegar ao local por volta das 6h, no horário da largada da prova oficial.
Quando chegaram ao evento, Lucas e seu parceiro de desafio já haviam acumulado cerca de 36 quilômetros desde a largada da madrugada.
A decisão foi natural: alinhar na Corre Cacoal, completar a quilometragem restante e fechar os 48 quilômetros dentro da prova comemorativa. A recepção dos demais corredores e organizadores foi de surpresa e admiração.
Ao contarem que já vinham correndo desde a madrugada, escutaram de muita gente a mesma pergunta: “Por que vocês não avisaram? Por que não chamaram mais gente?” A resposta foi simples: tudo havia surgido de forma muito espontânea, decidido na tarde de terça-feira, organizado às pressas e colocado em prática poucas horas depois.
A foto escolhida para marcar o momento foi feita já próximo dos 40 quilômetros, durante a prova Corre Cacoal. Ao avistar o fotógrafo, os dois combinaram: “Vamos fazer cara de brabo!” Lucas até tentou, mas o companheiro de corrida Cleverson confessou que não conseguiu sustentar a expressão séria. O clique acabou registrando justamente o contrário: espontaneidade, alegria e a leveza de quem estava se divertindo mesmo no meio de um grande desafio físico.
Depois de completar os 48 quilômetros ao lado de Lucas, o narrador do desafio Cleverson seguiu sozinho. Faltavam ainda 12 quilômetros para cumprir a própria meta pessoal. As 10h25 da manhã, encerrou o treino com mais de 8 horas correndo, num preparo específico para a Ultramaratona de Ji-Paraná, marcada para o dia 6 de dezembro, na qual pretende encarar o desafio de 80 quilômetros.
O desafio dos 48 quilômetros em homenagem a Cacoal ganhou repercussão nas redes sociais. Ao longo do trajeto e durante a prova, foram feitas publicações no Instagram, especialmente nos stories, com muitas pessoas parabenizando, acompanhando e incentivando a iniciativa.
Nas brincadeiras, falaram até em patrocínio: Lucas, que corria com a camiseta da TudoSeguro, ouviu dos amigos que o empresário Eliseu deveria “adotar” oficialmente o desafio no próximo ano.
A turma também marcou o prefeito Adaílton Fúria e a prefeitura nas postagens, como forma de reforçar que a homenagem era, acima de tudo, um gesto de carinho pela cidade.
O clima descontraído rendeu mais do que quilômetros: rendeu histórias, vídeos, risadas e uma combinação entre os envolvidos e outros corredores de que, no ano que vem, o desafio será repetir a dose com 49 quilômetros pelos 49 anos de Cacoal.
Além da experiência pessoal, o relato traz um olhar atento sobre o momento que Cacoal vive em relação ao esporte. Segundo Cléverson, 2025 foi um ano em que quase todos os meses houve uma corrida de rua na cidade.
Nos períodos em que não havia evento local, muitos atletas se organizavam para viajar e representar Cacoal em provas em outros municípios.
A corrida, destaca ele, tem se tornado um fenômeno que vai além do desempenho esportivo. Vira encontro de amigos, oportunidade de convivência familiar, ferramenta de saúde física e mental e, muitas vezes, ponto de virada na rotina de quem decide trocar o sedentarismo por um tênis de corrida.
Em tom bem-humorado, ele lembra uma cena da madrugada: em determinado momento, o grupo passou próximo a um local onde ainda acontecia uma festa. Ali, brincaram que, naquele horário, existem dois tipos de pessoas: quem está na balada e quem está na rua correndo.
Pouco depois, quase cinco da manhã, começaram a avistar gente caminhando e se exercitando, confirmando a impressão de que Cacoal está cada vez mais aderindo a esse estilo de vida.
O desafio dos 48 quilômetros em homenagem ao aniversário de Cacoal termina como começou: simples, espontâneo e carregado de simbolismo.
Mais do que números no relógio de corrida, fica o registro de uma cidade que comemora seu aniversário também com passos, suor, amizade e projetos para ir ainda mais longe nos próximos anos.
