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O lamento da floresta ecoa no segundo dia do Duelo na Fronteira

Boi-bumbá Flor do Campo se apresentou nesse sábado, 15.

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O lamento da floresta ecoa no segundo dia do Duelo na Fronteira

Sob os versos de “Quando a floresta cantava, quando a vida brotava”, da toada de Leonardo Pantoja, o Flor do Campo transformou o bumbódromo de Guajará-Mirim em território sagrado na noite desse sábado (15). Ao som de tambores e do clamor da Amazônia, a agremiação fez a floresta pulsar em cena, convocando ancestrais, guardiões e criaturas místicas para ecoar o pedido de uma terra que sofre, mas ainda resiste.

O boi entrou na arena antes das 23h, invocando os espíritos da mata sob o tema “Clamor – o lamento da floresta”. Criado em 1981, o Flor do Campo reafirma, há mais de quatro décadas, sua identidade: a floresta como sagrada, viva e indispensável. Em 2025, essa mensagem ecoou ainda mais forte. Tambores, fogos e cores conduziram o público a um chamado de consciência, traduzido em cena, música e espiritualidade.

A toada “O Clamor da Floresta” guiou o espetáculo com versos que denunciam a ganância, a devastação e o ferimento do “seio da vida”. Na arena, o lamento converteu-se em resistência.

A floresta que clama

Segundo a diretora executiva da agremiação, Rosa Solani, o enredo deste ano é um apelo ao cuidado com o território amazônico e à memória dos povos que o sustentam.

“É um apelo pela floresta viva. O Flor do Campo sempre levantou a bandeira da preservação da natureza e da biodiversidade. A degradação é grande, e queremos abrir os olhos do mundo”, enfatizou. Durante a apresentação, a agremiação exibiu o xauara, figura que simboliza a destruição: queimadas, rios poluídos, serras e motosserras que derrubam árvores. A alegoria traduz a “massa da destruição” - resultado de incêndios, desmatamento e garimpo ilegal, ameaças constantes aos povos da floresta.

Alegorias que contam histórias

O espetáculo trouxe um mosaico de personagens, seres e símbolos da Amazônia, reforçando a mensagem de preservação:

  1. Seringueiro – figura positiva, representante dos trabalhadores que dependem da floresta em pé.
  2. Garça, arara e gavião-real – animais que personificam a vida que resiste e depende de territórios preservados.
  3. Peixes da piracema – lembrança do ciclo natural dos rios e da importância de mantê-los limpos.
  4. Cacicas e mulheres indígenas – força feminina das aldeias, destacando quem luta diariamente pela sobrevivência da Amazônia.
  5. Povo Karipuna – homenagem aos povos originários e às histórias preservadas por gerações.
  6. Sinhazinha do Campo – vestida de amarelo em referência aos ipês amarelos, símbolo da natureza viva.

Entre tradição, poesia e luta

A apresentação também reverenciou ativistas que defendem a floresta em pé, como Chico Mendes, e reforçou mensagens como “A floresta vale mais de pé do que deitada” e “Amaldiçoados quem maltrata a terra”.

Em diversos momentos, o espetáculo destacou os ancestrais indígenas, o ar que “já não é mais puro”, rios que pedem proteção e o futuro dos “povos curumins” - metáfora das próximas gerações que dependerão das escolhas feitas hoje.

Um encontro com o povo

Ao final da apresentação, o boi foi ao encontro da multidão, reafirmando sua essência: uma manifestação feita pelo povo e para o povo, que nasce da terra amazônica e retorna a ela em forma de arte.

Reunindo cerca de 300 brincantes e 21 itens oficiais, o Flor do Campo emocionou o público e reforçou seu histórico de valorização da identidade regional.

Após levar em 2024 o tema “Terra de um povo mestiço”, a agremiação renova, em 2025, seu compromisso com a preservação ambiental, com a ancestralidade e com a Amazônia viva.

Interrupção da apresentação do boi Malhadinho

Conforme o regulamento do Duelo na Fronteira 2025, cada agremiação dispõe de tempo mínimo de 2h e máximo de 2h30 para apresentação.

Na primeira noite do festival, sexta-feira (14), o boi Malhadinho iniciou sua apresentação com atraso, devido à chuva. O grupo entrou na arena por volta da 1h, levando o enredo “Somos amazônidas”, mas teve o espetáculo interrompido após uma hora de execução.

A situação se enquadra no artigo 15 do regulamento, que trata de interrupções por motivos de segurança, como mau tempo ou falhas estruturais.

Os itens apresentados pelo Malhadinho até o momento da interrupção foram registrados. Os que não puderam ser exibidos receberão as mesmas notas atribuídas ao Flor do Campo na noite de sábado (15), conforme prevê o regulamento.

Cobertura e apoio da Assembleia Legislativa

Pelo segundo ano consecutivo, a Assembleia Legislativa de Rondônia (Alero) realiza a transmissão ao vivo do evento, pelo canal 7.2 da TV Assembleia e pelo YouTube. As matérias sobre o festival também podem ser acompanhadas no site oficial da Casa.A Alero participa ativamente da realização do Duelo na Fronteira 2025, ao destinar recursos por meio de emendas parlamentares e aprovar projetos que contribuem para sua execução.

O evento é organizado pela Sejucel, em parceria com a Associação Waraji e a Prefeitura de Guajará-Mirim.

ProgramaçãoA torcida do Flor do Campo levantou arquibancadas inteiras em vermelho, vibrando a cada item apresentado (Foto: Thyago Lorentz I Secom ALE/RO)

3ª noite – Domingo (16/11/2025)

  1. 18h – Abertura dos portões
  2. 20h – Apresentação do boi Flor do Campo
  3. 22h30 – Intervalo
  4. 23h15 – Apresentação do boi Malhadinho
  5. 1h30 – Encerramento

Segunda-feira (17/11/2025)

  1. 17h – Apuração dos resultados
  2. 20h – Encerramento da apuração


Texto: Eliete Marques I Jornalista Secom ALE/RO

Fotos: Thyago Lorentz I Secom ALE/RO