Rondônia, 16 de março de 2025
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Revogação da pauta ambiental nos EUA compromete COP 30 e planos de Lula com a agenda verde

No mesmo dia em que Trump revogava ações do governo de Joe Biden para o combate à mudança climática, Lula nomeava no Brasil o embaixador André Corrêa do Lago para presidir a COP 30.

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Discurso de posse e decretos assinados por Trump em seu primeiro dia podem frustrar planos de Lula para o meio ambiente (Foto: EFE)

Logo após ser empossado, o presidente americano Donald Trump fez uma série de anúncios e já assinou decretos que vão em desacordo com a agenda progressista e ambiental defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O republicano criticou aspectos da pauta ambiental que prejudicam o desenvolvimento dos Estados Unidos e está revogando estímulos econômicos destinados à luta contra a mudança climática, entre eles a participação dos Estados Unidos no Acordo de Paris.

A influência global das decisões de Trump nos Estados Unidos deve dificultar o projeto de Lula de realizar neste ano no Brasil o que ele classifica como a maior conferência do clima da história. Seu projeto era que o evento lançasse seu nome internacionalmente como grande representante da agenda verde.

No mesmo dia em que Trump revogava ações do governo de Joe Biden para o combate à mudança climática, Lula nomeava no Brasil o embaixador André Corrêa do Lago para presidir a COP 30. O governo brasileiro vem se esforçando para fazer propaganda de que o evento será realizado pela primeira vez na Amazônia (em novembro na cidade de Belém, no Pará).

Após tomar posse, Trump anunciou: “Com minhas ações de hoje, encerraremos o Green New Deal (conjunto de ações econômicas que visam combater a desigualdade e as mudanças climáticas) e revogaremos o mandato do veículo elétrico”. De acordo com o presidente americano, a intenção é reindustrializar os Estados Unidos e impulsionar a produção de petróleo e gás do país – medidas que vão no sentido do oposto da chamada agenda verde.

Para analistas, a postura do republicano pode trazer impactos para o Brasil tanto econômicos quanto na agenda externa de Lula. “Os possíveis impactos, em geral negativos, vão da possibilidade de aplicação de tarifas a produtos brasileiros, como já aconteceu com o aço e o alumínio no primeiro governo Trump, às implicações que a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris provocarão na COP 30”, avalia o ex-embaixador Rubens Ricupero.

Diplomata e ex-ministro, ele diz que, ainda que o Brasil não figure entre os principais focos de atenção de Trump, sua postura antagônica com o presidente Lula pode resultar em derrotas para o petista.

Até o último ano, o mandatário brasileiro tinha nos Estados Unidos de Joe Biden um aliado e um parceiro em temas relacionados à proteção do meio ambiente e também à transição energética. Biden era ainda a esperança de Lula para obter dinheiro para o Fundo Amazônia, uma iniciativa diplomática para arrecadar doações para a preservação da floresta. Donald Trump, por outro lado, é um crítico desta agenda.

Políticas de incentivo à transição energética e à redução de emissão de gases poluentes são algumas das apostas de Lula neste terceiro mandato. No último ano, por exemplo, o petista aprovou a Política Nacional de Transição Energética (PNTE), com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa no Brasil, focando em fontes de energia renováveis brasileiras, como a eólica e o biodiesel. Uma de duas bandeiras é a produção do chamado hidrogênio verde, que ele afirma ser o combustível do futuro.

Lula também buscou incentivar a produção de carros elétricos no Brasil. Em 2024, o governo federal anunciou investimentos para apoiar o desenvolvimento de baterias para veículos elétricos fabricados no Brasil. Essas ações, conforme pontuam os analistas, fazem parte de uma estratégia mais ampla do petista para tentar se consolidar como um líder ambiental global.

Após a tentativa frustrada de se posicionar como mediador nas guerras no Oriente Médio e no Leste Europeu, Lula tem focado em questões ambientais para fortalecer sua liderança internacional. O cenário, contudo, não parece o mais favorável para o petista buscar protagonismo, tendo em vista que a agenda verde deve perder fôlego nos próximos anos com o retorno de Trump à Casa Branca.

Na avaliação de Leon Norking Rangel, gerente de Energia e Sustentabilidade da BMJ Consultores Associados, a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris (tratado internacional que estipula metas para redução do aquecimento global) já representa um retrocesso no avanço dos compromissos climáticos. O especialista ressalta ainda que o papel dos americanos na COP é uma incógnita, já que o país ainda tem um ano até se desligar completamente do Acordo de Paris.

“É preciso saber se eles vão ignorar completamente o evento – e as chances disso são altas –, ou se eles vão estar na COP para tentar minar o acordo climático”, afirma Rangel. O sócio-diretor da Agroicone, Rodrigo Lima, explica ainda que a postura adotada pelo republicano pode dificultar a discussão de temas caros à presidência brasileira da COP 30.

Conforme pontua Lima, a COP 29, realizada em Baku, no Azerbaijão,foi marcada pela definição da meta de US$ 1,3 trilhão para serem investidos em ações ambientais. “Durante a presidência brasileira, a expectativa é de definir regras sobre a implementação e adaptação dos países para alcançar a meta”, declara Lima ao ressaltar que a ausência de Washington nessas discussões dificultam o alcance de metas estabelecidas. Em outras palavras, Lula tentará convencer países desenvolvidos a financiar a preservação ambiental em países em desenvolvimento.

Durante a presidência brasileira da Conferência do Clima das Nações Unidas, o Brasil deve apresentar três pontos chaves:

  • Indicadores para adaptação climática: Propor a criação de métricas para avaliar como os países estão avançando no cumprimento das metas do Acordo de Paris, especialmente no que se refere à adaptação às mudanças climáticas.
  • Transição justa: Enfatizar a necessidade de uma transição energética que leve em conta as desigualdades entre os países. Isso reconhece que nações em desenvolvimento enfrentam maiores dificuldades para cumprir as metas ambientais, se comparadas às grandes potências econômicas;
  • Implementação da meta de US$ 1,3 trilhão para ações climáticas: Discutir como serão definidos os recursos financeiros para o combate às mudanças climáticas, estabelecendo critérios para as doações e os recebimentos de verbas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
  • Na avaliação de Rodrigo Lima, sócio-diretor da Agroicone, a retirada dos Estados Unidos dos compromissos ambientais não vai paralisar ou interromper as discussões da agenda verde, mas vai deixá-las mais lentas. Lima explica que isso pode estagnar o avanço dos tópicos definidos presidência brasileira na COP30, especialmente no que diz respeito ao alcance da meta de US$ 1,3 trilhão em doações

“Se a gente observar que os bancos multilaterais vão ter um papel muito grande no financiamento desses órgãos multilaterais e os EUA têm um papel enorme nesses bancos, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial, talvez o que aconteça seja uma redução do financiamento para ações de transição energética e proteção ambiental e uma guinada para financiar petróleo”, pontua Lima.

Por Carinne Souza




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