Rondônia, 4 de maio de 2024
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Sete em cada dez crianças aptas não foram vacinadas contra a pólio

De acordo com o Ministério da Saúde, pouco mais de 32% das crianças entre 0 e 5 anos receberam ao menos uma dose do imunizante

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Cinco motivos que estão fazendo com que a pólio e o sarampo ressurjam em locais onde haviam sido erradicadas

Desde o dia 8 de agosto, o Ministério da Saúde faz uma campanha de multivacinação de crianças e adolescentes com o objetivo de melhorar os índices de cobertura vacinal no país, que estão em queda desde 2016.

O público alvo da ação são as 11.572.563 crianças 0 a 4 anos e 11 meses, e o imunizante aplicado em todas elas atua contra a poliomielite.
Todavia, os dados do DataSUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) mostram que a adesão não é animadora.

Na sexta-feira (2), o estado de Roraima informou que investiga um caso suspeito de pólio. Se confirmado, seria o primeiro no país em mais de 30 anos.
Faltando uma semana para o fim da campanha, que será no dia 9 de setembro, apenas 3.766.643 doses foram aplicadas, o que representa 32,55% dos indivíduos aptos a serem imunizados.

Vale o lembrar que a recomendação desta ação é que 100% da faixa etária mencionada receba a dose da vacina contra a poliomielite.

“A vacinação contra a pólio é uma campanha indiscriminada e independente da carteira de vacinação. Portanto, todas as crianças devem ser vacinadas”, explica a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o PNI (Programa Nacional de Imunização) até 2019.

Na divisão por idade, os índices de cobertura vacinal são:

– Até 1 ano: 939.331 doses aplicadas de 2.730.050 esperadas – 34,41% de cobertura

– 2 anos: 905.224 doses aplicadas de 2.954.887 esperadas – 30,63% de cobertura

– 3 anos: 950.375 doses aplicadas de 2.969.319 esperadas – 32,01% de cobertura

– 4 anos: 971.713 does aplicadas de 2.918.307 esperadas – 33,30% de cobertura

As grandes campanhas de vacinação são organizadas para que os órgãos de saúde consigam atualizar a carteiras de vacinação de crianças e adolescentes. Um imunizante específico é usado como chamariz, mas todos os outros aplicados pelo SUS ficam disponíveis para a população.

“Quando fazemos uma campanha de vacinação, nós buscamos a atualização das carteiras de vacinação para todas as doenças evitáveis com vacina”, orienta a epidemiologista.

Para a ex-coordenadora do PNI, a atual campanha de vacinação não conseguirá atingir o objetivo do Ministério da Saúde.

“Não acredito que teremos uma campanha bem-sucedida. Se nós sequer conseguimos trazer 80% das crianças aos postos de saúde para olhar a carteira de vacinação e aplicar a vacina de pólio, como vamos conseguir recuperar as outras vacinas?”

Carla Domingues credita a falta de adesão da população a erros de planejamento do governo federal e dos governos estaduais e municipais.

“Uma campanha eficaz exige a capacitação dos funcionários de saúde. O ministério é o resposável pela distribuição e por campanhas publicitárias contínuas. Os estados cuidam do planejamento e dos processos de vacinação. E os municípios ficam de olho nos microdados, identificando a população que precisa ser vacinada e quais são as estratégias apropriadas e diferenciadas para fazer a busca ativa de acordo com a realidade de cada cidade.”

Até o dia 9, inclusive neste fim de semana e no feriado da Independência, na próxima quarta-feira (7), muitos postos de saúde estarão abertos em todo o país para que pais ou responsáveis levem suas crianças para atualizar as carteirinhas de vacinação e, com isso, evitar a volta de doenças como sarampo, poliomielite, coqueluche e várias outras.

O brasileiro deixou de acreditar em vacinas?

O Brasil é reconhecido internacionalmente como um país modelo quando o assunto é a cobertura vacinal.

Para o diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Renato Kfouri, a população segue confiando nos imunizantes e isso foi confirmado nos índices da imunização da Covid-19.

“Quando falamos muito de uma doença ou há surtos, as pessoas querem vacinar. Como aconteceu com a Covid agora, nos surtos de febre amarela e sarampo há três anos. O problema é que passa a onda, passa a epidemia todo mundo deixa de fazer a vacina de maneira rotineira”, lamenta o pediatra.

Ele vê o sucesso das vacinas como uma das causas para a queda dos índices.

“Um pano de fundo comum a todos os locais do Brasil é baixa a percepção de risco. O próprio sucesso que as vacinas fazem, elas eliminam as doenças, e as pessoas já não se sentem ameaçadas. É só ter um caso de meningite na escola de uma família, que todo mundo sai correndo nos postos para se vacinar. Infelizmente, é a percepção do risco que nos move em direção à prevenção.”



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